Teste BMW M 1000 XR - “M”aravilhoso dilema
Sob a promessa de uma letra, acreditamos que esta Sport-Touring vitaminada irá transportar-nos para outra dimensão em que carregamos velocidade em pleno conforto. Será apenas um magnífico show-off?
andardemoto.pt @ 4-3-2025 17:42:34 - Texto: Pedro Alpiarça | Fotos: Luis Duarte
Um verdadeiro assalto aos sentidos é a percepção que temos na presença desta versão apimentada da BMW XR. A marca bávara continua a provar ser capaz de criar máquinas nas quais a performance é elevada a níveis estratosféricos.
A sequência de curvas é sempre a mesma, já não faço ideia de onde está o fotógrafo, portanto não tenho pressão nenhuma de fazer a imagem acontecer em determinado ponto. Uma passagem de caixa nas 10k! Será que não consigo esticar um pouco mais a minha coragem?
O limitador surge perto das 14,5k rpm, e o pico de potência está já ali (nas 12,750 rpm), mas naquela pequena recta em que passo de 2a para 3a (para depois picar o travão da frente ganhando compostura para a abrupta sequência que se segue, sempre a perder velocidade), acabo sempre por cortar o gozo cedo demais.
A sensação de abismo está sempre presente, o Atlântico espera-me lá em baixo, e não é esse o factor (mas devia!!) que me está a cercear a vontade de entrar no red-line. Não é preciso tanto.
Este motor é tão avassalador na sua resposta nos médios regimes, que não preciso de “viver” no último terço para ser consistente na fluidez. Pendurado na lateral, forçando a postura, consigo deixar a máquina trabalhar a entrada e saída de curva, confiando primeiro na acutilância da sua direcção e depois na sua absurda capacidade de tracção.
Mais do que a ciclística super competente, o meu cérebro tem de se adaptar à enorme explosão do que o meu punho direito consegue acordar. Ainda bem que não trouxe o fato de pista. A tentação de puxar um pouco mais pelo envelope iria colocar-me num nível demasiado perigoso para o cenário em que me encontro.
Esta M 1000 XR não é uma hipernaked nem uma superdesportiva, é outro tipo de monstro. Tentarei explicar-vos melhor nas próximas linhas o porquê de achar que este “M”aravilhoso dilema não é para mim…
Mas antes disso, deixe-me dar-lhe algum enquadramento sobre o quão especial é esta moto. Se dúvidas existissem sobre o significado da letra que define o toque de midas do departamento desportivo da BMW, bastam uns breves segundos a observá-la para os nossos sentidos serem inundados com todo um mundo de exclusividade.
Não só temos carbono com fartura como também temos peças maquinadas, apêndices aerodinâmicos nas carenagens e, por último mas bastante relevante, muito mais potência e menos peso. Se ainda não bastasse, este modelo tinha também as opcionais jantes em carbono, um absoluto deleite para a vista.
Com este pacote M Competition (que também inclui um laptimer associado a um GPS), o valor ascende a uns contundentes 34.069 €, assim, a seco. Não irei entrar na paupérrima discussão sobre o valor de uma máquina, até porque acredito que vale cada cêntimo, só tenho pena do quanto me faz lembrar da minha ridícula condição económica…
Os três modelos consagrados com este nível de desportividade (a M1000RR, a M1000R e agora a M1000XR) representam muito mais do que um exercício de estilo. São o zénite da tecnologia aplicada à performance pura e nós, como público, somos uns felizardos em podermos ter estas versões (sem serem umas edições especiais, com números limitados).
Claro que existe alguma feitiçaria de marketing aplicada, e fui testemunha desse poderoso fenómeno quando me apercebi da quantidade (e sobretudo da disparidade) de pessoas que me abordaram quando tive esta máquina para teste. É impossível ficar indiferente.
Deixe-me então explicar-lhe o quão melhor é esta XR em relação à versão “S”.
O tetracilíndrico de 999 cc com tecnologia Shift Cam (herdado da S 1000 RR) foi ligeiramente amaciado (por gestão electrónica) debitando uns expressivos 201 cv (o seu binário permanece praticamente igual, com 113 Nm às 11000 rpm), rebentando de modo incontestável a escala de bazófia em qualquer conversa de café.São mais de 30cv de diferença para a versão normal.
Os menos 4 kg de diferença podem chegar a 7 kg se optarmos pelas jantes em carbono e pela bateria de lítio (ficando a cifra nos 227 kg), sendo que a menor massa não suspensa melhora substancialmente a dinâmica da moto. No capítulo da electrónica encontramos à nossa disposição toda a capacidade que a RR tem de nos fazer passar por heróis.
O modo Race permite configurar vários settings ligados à acção do controle de tracção, intervenção do ABS, anti-wheelie, suspensão, amortecimento da direcção… Todo um patamar de possibilidades que nos permite aflorar os nossos limites em ambientes controlados.
Atrevi-me muito pouco neste mundo (conheci o seu potencial transformador quando fiz o teste de pista da RR), visto que a via pública exige muito mais respeito (já bastava saber que as “asas” carregam qualquer coisa como 12 kg de força a 220 Km/h!).
Em boa verdade, atrás do guiador, sentado no confortável assento M, as diferenças não são muitas. A baixas rotações seguimos civilizadamente com toda a complacência de um quatro cilindros, devagar o suficiente para toda a gente poder ver bem a diva a passar e até aqui nada de novo. Não fosse a ausência de fixações para as malas rígidas e um ecrã deflector que trabalha mais como objecto de estilo do que como peça aerodinâmica, e diria que era capaz de fazer algum turismo despachado.
A “S” consegue-o com nota de mérito. Mas quando passamos das 8k rotações e a árvore de cames altera a abertura das válvulas, toda a decência foge para parte incerta. A subida de regime é brutalmente vigorosa e a diferença é notória nas relações mais altas pois a M1000XR tem uma caixa mais curta em 4a, 5a e 6a velocidades, beneficiando a transmissão de uma cremalheira maior. Entretanto faço questão de não mencionar a travagem porque é perfeita. Ponto.
E foi com este dilema que me debati nos dias em que tive este colosso na minha posse, O equilíbrio entre o objecto e a sua função, a magnitude do desejo e da paixão que provoca em antítese com a facilidade de explorar as suas valências. Com isto não quero dizer que uma XR na versão M, não faça sentido, nada disso.
Como exercício de poder, de exuberância e de performance pura, é um assombro de moto. Mas para uma estrada de serra com as minhas curvas favoritas, gostei bastante mais da M 1000 R, mais ágil, mais divertida, com o centro de gravidade mais baixo, enfim…mais fácil de perceber no limite. Uma Hypernaked sem veleidade de ser outra coisa qualquer.
Se a XR normal já nasce de uma moto de pista, aqueles que a procuram esperam ter um pouco dessa atitude mas de um modo muito mais confortável e práctico. Esta iteração mais radical aproxima-a em demasia da sua irmã superdesportiva, fazendo-a perder um pouco o azimute da sua criação. Uma RR em pista (ou numa AutoBahn… daquelas que não temos no nosso país), será sempre mais rápida e eficaz.
A BMW M 1000 XR obrigou-me a muito trabalho para tentar perceber os seus limites e a dada altura tive de perceber que, se calhar, os limites que apareciam primeiro…eram os meus. Das duas uma, ou fui enganado pela sua inspiração “sport touring”, ou preciso de ter uma na garagem para fazer evoluir a relação!
Equipamento:
Capacete: Nolan X-804 RS Ultra Carbon
Blusão: REV’IT! Hyperspeed Air
Calças: Alpinestars Copper V3 Denim
Botas: Alpinestars Fastback 2 Drystar
Luvas: Macna Power Track
andardemoto.pt @ 4-3-2025 17:42:34 - Texto: Pedro Alpiarça | Fotos: Luis Duarte
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